segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Eduardo Collen Leite - O Bacuri - Receberá o título de Cidadão Paulistano.

Eduardo Collen Leite - O Bacuri - Receberá o título de Cidadão Paulistano.
Dia 07 de dezembro - terça-feira – às 19hs
Local: Plenário 1º de Maio – Câmara Municipal de São Paulo – Viaduto Jacareí nº 100 – 1º Andar






Trata-se de mais um dos casos de absoluta crueldade da repressão.
Na véspera de ser retirado de madrugada do Deops para ser assassinado, a repressão lhe entregou - na cela onde estava sozinho - um exemplar da Folha da Tarde que noticiava sua morte "em tiroteio".

Para que jamais esqueçamos a história, a Folha da Tarde era aquele pasquim que o senhor Otávio Frias (pai do senhor Otávio Frias Filho) cedeu graciosamente ao esquadrão da morte durante os dois anos finais dos 1960, e que assim continuou até o final dos 1970.

Bacuri tem uma das histórias mais bonitas da nossa resistência.

Quando foi preso, sua companheira - nossa grande e querida camarada Denize Crispim - estava grávida. Meses depois, nasceu a Maria Eduarda.

Sugiro a quem não possa comparecer, que envie mensagens dirigidas a essas duas mulheres (Denize e Maria Eduarda), para o endereço da Denize:


Denize Crispim Perez     email: zdenize@gmail.com

Alipio Freire


Saiba mais sobre o Bacuri:

Eduardo Collen Leite
Dirigente da Acão LIBERTADORA NACIONAL (ALN).
Técnico em Telefonia.
Filho de Alberto Collen Leite e Maria Aparecida Leite, nasceu em Campo Belo, Minas Gerais, em 28 de agosto de 1945.
Morto aos 25 anos, em São Paulo.
Eduardo fez seus estudos em São Paulo, para onde sua família se mudou.
Muito jovem começou sua militância política, integrando-se à POLOP.
Em 1967, foi incorporado ao Exército, servindo na 7ª Companhia de Guarda e, posteriormente, no Hospital do Exército, no bairro do Cambuci.
Em 1968, vinculou-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da qual se retirou para fundar a Rede Democrática (REDE), em abril de 1969. Posteriormente, Eduardo, juntamente com outros componentes dessa organização, passaram para a Ação Libertadora Nacional (ALN).
O assassinato de Eduardo Leite, o “Bacuri” é um dos mais terríveis dos que se tem notícia, já que as torturas a ele infligidas duraram 109 dias consecutivos, deixando-o completamente mutilado.
Foi preso no dia 21 de agosto de 1970, no Rio de Janeiro, pelo delegado Sérgio Fleury e sua equipe, quando chegava em sua casa. Passou pelo CENIMAR/RJ e DOI-CODI/RJ, onde foi visto pela ex-presa política Cecília Coimbra, já quase sem poder se locomover.
Do local da prisão, Eduardo foi levado a uma residência particular onde foi torturado. Seus gritos e de seus torturadores chamaram a atenção dos vizinhos, que avisaram a polícia. Ao constatarem de que se tratava da equipe do delegado Fleury, pediram apenas para que mudassem o local das torturas.
Após ser torturado na sede do CENIMAR, no Rio de Janeiro, Eduardo foi transferido para o 41° Distrito Policial, São Paulo, cujo delegado titular era o próprio Fleury.
Novamente transferido para o CENIMAR/RJ, Eduardo permaneceu sendo torturado até meados de setembro, quando voltou novamente para São Paulo, sendo levado para a sede do DOI/CODI. Em outubro, foi removido para o DEOPS paulista, sendo encarcerado na cela 4 do chamado “ fundão” (celas totalmente isoladas).
No dia 25 de outubro, todos os jornais do país divulgaram a nota oficial do DEOPS/SP relatando a morte de Joaquim Câmara Ferreira (Comandante da ALN), ocorrida em 23 de outubro. Nesta nota, foi inserida a informação de que Eduardo Leite havia conseguido fugir, sendo ignorado seu destino. Foi encontrado nos arquivos do DOPS, a transcrição de uma mensagem recebida do DOPS/SP pela 2ª seção do IV Exército, assinada pelo coronel Erar de Campos Vasconcelos, chefe da 2ª Seção do II Exército, dizendo “que foi dado a conhecer a repórteres da imprensa falada e escrita o seguinte roteiro para ser explorado dentro do esquema montado”. O tal roteiro falava da morte súbita de Câmara Ferreira após ferir a dentadas e pontapés vários investigadores. E mais adiante diz “Eduardo Leite, o ‘Bacuri’, cuja prisão vinha sendo mantida em sigilo pelas autoridades, havia sido levado ao local para apontar Joaquim Câmara Ferreira (..). Aproveitando-se da confusão, Bacuri, (...) logrou fugir (...)”. Estava evidenciado o plano para assassinar Eduardo.
O testemunho de cerca de 50 presos políticos recolhidos às celas do DEOPS paulista neste período prova que Eduardo jamais saíra de sua cela naqueles dias, a não ser quando era carregado para as sessões diárias de tortura. Eduardo era carregado porque não tinha mais condições de manter-se em pé, muito menos de caminhar ou fugir, após 2 meses de torturas diárias.
O comandante da tropa de choque do DEOPS/SP, tenente Chiari da PM paulista, mostrou a Eduardo, no dia 25, os jornais que noticiavam sua fuga.
Para facilitar a retirada de Eduardo de sua cela, sem que os demais prisioneiros do DEOPS percebessem, o delegado Luiz Gonzaga dos Santos Barbosa, responsável pela carceragem do DEOPS àquela época, exigiu o remanejamento total dos presos, e a remoção de Eduardo para a cela n° 1, que ficava defronte à carceragem e longe da observação dos demais presos. Seu nome foi retirado da relação de presos, as dobradiças e fechaduras de sua cela foram oleadas de forma a evitar ruídos que chamassem a atenção.
Os prisioneiros políticos, na tentativa de salvar a vida de seu companheiro, montaram um sistema de vigília permanente.
Aos 50 minutos do dia 27 de outubro de 1970, Eduardo foi retirado de sua cela, arrastado pelos braços, pela falta total de condições de pôr-se em pé, com o corpo repleto de hematomas, cortes e queimaduras, sob os protestos desesperados de seus companheiros. .
Eduardo não foi mais visto. Os carcereiros do DEOPS, freqüentemente questionados sobre o destino de Bacuri, só respondiam que ele havia sido levado para interrogatórios em um andar superior. Os policiais da equipe do delegado Fleury respondiam apenas que não sabiam; apenas o policial conhecido pelo nome de Carlinhos Metralha é que afirmou que Eduardo estava no sítio particular do delegado Fleury. Tal sítio era usado pelo delegado e sua equipe para torturar os presos considerados especiais ou os que seriam certamente assassinados e, por isso, deveriam permanecer escondidos.
No dia 8 de dezembro, 109 dias após sua prisão, e 42 dias após seu seqüestro do DEOPS, os jornais do país publicavam nota oficial informando a morte de Eduardo em um tiroteio nas imediações da cidade de São Sebastião, no litoral paulista.
A noticia oficial da morte de Eduardo teve um objetivo claro: tirar as condições da inclusão de seu nome na lista das pessoas a serem trocadas pela vida do Embaixador da Suíça no Brasil, que havia sido seqüestrado no dia 7 de dezembro. Seu nome seria incluído nessa lista e seria impossível soltar o preso Eduardo que, oficialmente estava foragido e, além do mais, completamente desfigurado e mutilado pela tortura.
A única alternativa para o delegado Fleury foi criar mais uma morte em tiroteio.
O corpo de Eduardo foi entregue à família, que constatou o nível animalesco a que chegaram as torturas a ele infligidas.
Seu corpo, além de hematomas, escoriações, cortes profundos e queimaduras por toda a parte, apresentava dentes arrancados, orelhas decepadas, e os olhos vazados, segundo o testemunho de Denise Crispim, esposa de Eduardo, desmascarando por completo a farsa montada pelo delegado Fleury e sua equipe.
O exame necroscópico solicitado pelo delegado José Arary Dias de Melo, de Santos, é assinado pelos médicos legistas Aloysio Fernandes e Décio Brandão Camargo, que responde não à pergunta se houve tortura, e confirma a falsa versão oficial de que Eduardo morreu em tiroteio, às 22:00 horas do dia 08/12/70, em Boracéia, estrada que liga o Distrito de Bertioga com o de São Sebastião (SP).
Os Relatórios do Ministério da Aeronáutica e Marinha confirmam a versão policial.
Durante o período em que foi torturado, Eduardo esteve nas mãos do delegado Fleury e sua equipe, composta por membros do famigerado Esquadrão da Morte. Entre eles podem ser identificados os investigadores João Carlos Trali, vulgo Trailer, José Carlos Campos Filho, vulgo Campão, Ademar Augusto de Oliveira, vulgo Fininho, Astorige Corrêa de Paula e Silva, vulgo Correinha e vários outros conhecidos apenas por apelidos.
O assassinato de Eduardo foi denunciado por diversas vezes na 2ª Auditoria da Justiça Militar de São Paulo por seus companheiros de prisão, mas o juiz Nelson Guimarães Machado da Silva negou-se sempre a registrar a denúncia nos autos dos processos.
Denise Peres Crispim, sua esposa, estava grávida quando foi presa. Saiu do país, logo após ser libertada, vindo a nascer, no exterior, a filha Eduarda, que ele não chegou a conhecer.
Fonte : Movimento Estudantil Popular Revolucionário

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