terça-feira, 29 de março de 2011

Estado Laico na mídia : EBC sai na frente


Pluralidade religiosa: EBC sai na frente

Enquanto o marco regulatório das comunicações não vem, a decisão da EBC de formular uma “política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso”, certamente passará a significar um momento de inflexão não só na TV Pública, mas na televisão brasileira em geral.

Em artigo publicado em agosto de 2010, celebrei decisão do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que abrira consulta pública para recolher contribuições de entidades e pessoas físicas sobre a política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso através de seus veículos.

Ainda hoje a TV Brasil exibe o programa “Reencontro”, produzido por igreja de orientação evangélica, aos sábados; e os programas “A Santa Missa” e “Palavras de Vida”, de orientação católica, aos domingos. Já a Rádio Nacional de Brasília transmite aos domingos celebração de missa de orientação católica. Esses programas são originários das emissoras que foram absorvidas pela EBC após a sua criação e a regulamentação do Sistema Público de Comunicação pela Lei nº. 11.652/2008. 

Uma reclamação de telespectadores enviada à Ouvidoria da EBC, provocou, à época, um parecer da Câmara de Educação, Cultura, Ciência e Meio Ambiente do Conselho Curador que afirmava:

“Parece-nos impróprio que os veículos públicos de difusão concedam espaços para o proselitismo de religiões particulares, como acontece atualmente com os programas que vão ao ar na TV Brasil aos sábados e domingos, dedicados à difusão de rituais ou de proselitismo que favorecem a religião católica e a segmentos de outras religiões cristãs. Tendo-se em vista o caráter plural do “mapa religioso” brasileiro (...) trata-se de um injustificado tratamento a religiões particulares, por mais importantes que sejam, por maior respeito que mereçam. Em tese, tais tratamentos, atualmente vigentes, só seriam corrigíveis, e atenuadas, se todos os cultos e religiões recebessem espaços equivalentes o que seria, obviamente, inviável.”

Diante desse Parecer, a Câmara de Educação, Cultura, Ciência e Meio Ambiente sugeriu a substituição dos atuais programas por outros sobre o fenômeno da religiosidade no Brasil, “de um ponto de vista plural, assegurada a participação a todas as confissões religiosas”.

EBC sai na frente
Depois de oito meses de discussões e após a realização da Consulta Pública nº. 02/2010, entre 04 de agosto e 19 de outubro de 2010, o Conselho Curador da EBC aprovou, em sua reunião do dia 22 de março, resolução das Câmaras de Educação e Cidadania e Direitos Humanos que determina a suspensão dos programas religiosos da grade de programação da empresa.

O tempo dos programas é de cerca de 2h45 minutos na grade de programação da TV Brasil sem incluir as missas retransmitidas pelas emissoras de rádio da EBC. Os responsáveis terão ainda seis meses para retirar a programação do ar. 

O próximo passo será dado pela diretoria executiva da EBC que apresentará ao Conselho Curador uma proposta de formato de faixa religiosa com produções que irão valorizar a diversidade e a pluralidade das manifestações religiosas em nosso país.

Estado laico
A decisão pioneira e exemplar da EBC toca em questões que obrigatoriamente deverão ser enfrentados pelo esperado marco regulatório das comunicações. Em artigo publicado no Brasil de Fato n. 416, João Brant, coordenador do Intervozes, lembra algumas dessas questões:

1. manifestações religiosas devem ou não ser permitidas em veículos de comunicação que são concessões públicas, como rádio e TV? 

2. se sim, deve ser permitido também o proselitismo religioso, ou seja, a prática de tentar "vender seu peixe" e conquistar fiéis?

3. como esse tipo de manifestação ajuda ou afeta a liberdade de crença – que é maior do que a liberdade religiosa e inclui até o direito de não se ter religião?

4. como garantir às distintas manifestações de fé o mesmo direito, já que não chegam a 2% as denominações religiosas presentes no Brasil que têm espaço em meios de comunicação?

5. deve-se impedir que esses espaços sejam usados para ataques a outras religiões, como os que sofrem as denominações de matriz africana?

6. deve-se permitir canais inteiramente controlados por grupos religiosos, o que é proibido na maioria das democracias? 

7. Deve-se permitir o arrendamento de espaço – ou mesmo de canais inteiros – no rádio e na TV ou essa prática configura uma verdadeira grilagem eletrônica, pela apropriação privada de um espaço público? 

Exemplo a ser seguido
Enquanto o marco regulatório das comunicações não vem, a decisão da EBC de formular uma “política de produção e distribuição de conteúdos de cunho religioso”, certamente passará a significar um momento de inflexão não só na TV Pública, mas na televisão brasileira em geral.

Somos um Estado laico e a EBC, sendo uma empresa pública de comunicação, deve se transformar não só em referência de qualidade, mas também de cumprimento dos preceitos constitucionais para os outros sistemas de “radiodifusão sonora e de sons e imagens” previstos na Constituição.

Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.


Enviado por Adolfo Fernandez

quinta-feira, 24 de março de 2011

Bispo que tentou fazer caveira de Dilma processa jornal de São Bernardo


O religioso alega ter sofrido danos morais por conta de reportagens publicadas pelo jornal. Além de aceitar a denúncia, o Poder Judiciário atendeu ao pedido do bispo de segredo de justiça ao processo.

Publicado originalmente, por ABCD MAIOR

Depois de sustentar, em 2010, campanha para identificar com a defesa do aborto a então candidata à presidência Dilma Rousseff, o bispo da Diocese de Santo André, Nelson Westrupp, resolveu pedir indenização, em dinheiro, ao jornal ABCD Maior. O bispo alega ter sofrido danos morais por conta de reportagens publicadas pelo jornal. Além de aceitar a denúncia, o Poder Judiciário atendeu ao pedido do bispo de segredo de justiça ao processo.

Para o advogado Rui Carneiro, que defende o Jornal ABCD Maior, “é uma perigosa aventura jurídica com caráter meramente vingativo em razão da vitória da presidente Dilma, além de tentar usar o Poder Judiciário para calar a imprensa e cercear o livre debate de assuntos de interesse público, o que é inadmissível no atual Estado Democrático de Direito.”

Santa Inquisição - De acordo com o jornalista Celso Horta, diretor do jornal, o que o bispo está querendo é “ressuscitar a Santa Inquisição. Até o sigilo de justiça está sendo invocado para pedir indenização pecuniária, um gesto muito contraditório com quem se diz ofendido em sua dignidade de religioso. O que, afinal, o bispo quer esconder atrás do sigilo? Será que os fiéis da Igreja Católica aceitam que um bispo lave sua honra com uma indenização em vil metal?”, perguntou o jornalista.

Westrupp, que também é presidente do Conselho Regional Sul da CNBB, denuncia ainda o jornalista Júlio Gardesani, autor das reportagens. Pouco antes do final do primeiro turno, uma carta assinada por Westrupp e outros dois bispos foi distribuída nas igrejas de São Paulo e por simpatizantes da candidatura de José Serra (PSDB). No documento, Westrupp pediu aos fiéis que não votassem em candidatos que defendiam o aborto, citando por cinco vezes o PT como partido que defendia.

A carta tumultuou a campanha eleitoral. Trouxe debates religiosos como a condenação do aborto e tirou o foco da discussão dos problemas nacionais. Enquanto a candidata, hoje presidente Dilma Rousseff, do PT, se defendia, José Serra, do PSDB, explorava o posicionamento da igreja. Dilma teve de se reunir com lideranças religiosas e preparar uma nota afirmando que não era a favor do aborto. O PT também teve de desmentir as afirmações de Westrupp.

A seção nacional da CNBB publicou, em seu site, texto contrariando o documento de Westrupp. “Lamentamos profundamente que o nome da CNBB (...) tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação. A CNBB não indica nenhum candidato (...) a escolha é um ato livre”.

Evangélicos - As informações sobre o envolvimento de Westrupp com as cartas também foram publicadas por outros jornais do ABCD e pela mídia impressa e eletrônica do País e internacional. Westrupp também se sentiu “ofendido” pela reportagem que citava a preocupação confessada pelo bispo em correspondência ao papa Bento 16 com o crescimento dos evangélicos e dos ateus em São Paulo.

Todas as reportagens publicadas pelo Jornal ofereceram espaço ao bispo mas em nenhuma delas ele aceitou falar pessoalmente. A assessora, Irmã Marinéia, chegou a se manifestar em nome de Westrupp, conforme registra a edição, número 253, de 13 de outubro de 2010.

Em relação à carta sobre o aborto, através de e-mail, o assessor de imprensa de Westrupp, Humberto Pastore, não só confirmou a autenticidade, como a encaminhou em anexo para o jornalista Júlio Gardesani. Em seguida, o bispo enviou ao jornal carta respondendo às reportagens, mas eivada de ofensas. “O jornalista Júlio Gardesani demonstra muito mais interesse em criar factóides e contendas do que informar (...) Creio que não é desse jeito que se faz jornalismo, Sr. Júlio Gardesani”, diz Westrupp. A correspondência do bispo foi publicada na íntegra pelo Jornal (edição número 260, de 05 de novembro de 2010).

Jornalista critica Westrupp - O presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Guto Camargo, afirmou que a tentativa de Dom Nelson Westrupp de censurar o ABCD Maior é política e prejudica, principalmente, o leitor do jornal. Guto é o primeiro representante da sociedade ouvido pelo ABCD Maior sobre o processo movido pelo bispo contra o jornal e o jornalista Júlio Gardesani.

“Essa é uma situação que muito nos preocupa ultimamente. Essa tentativa de interferência no trabalho da imprensa não é judicial, mas política. Isso porque, desde que derrubaram e Lei de Imprensa, não a substituíram por nenhuma outra. Assim, as decisões são subjetivas”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas.

Privação de informação - No entanto, o processo judicial movido por Dom Nelson Westrupp acerta diretamente o direito da população de se informar, explicou o presidente. “É um problema para o público leitor, que pode ser privado de uma informação por uma situação mal esclarecida”.

O presidente do Sindicato ainda garantiu que nunca viu a Igreja Católica processando diretamente um jornal em São Paulo. “É o primeiro problema de tentativa de censura à liberdade de imprensa partindo da própria Igreja Católica que eu tenho conhecimento”.

Enviado por Adolfo Fernandez

terça-feira, 22 de março de 2011

KASSAB ATINGE MAIOR ÍNDICE DE REPROVAÇÃO


De saída do DEM e dedicado à criação de um novo partido, prefeito de SP tem 43% de rejeição, segundo Datafolha

Com a pior nota desde que foi reeleito, Kassab vê sua imagem ruir com o aumento da tarifa de ônibus e as enchentes

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO folha de são paulo 21-03-2011

No momento em que deixa o DEM para fundar um novo partido, o PSD (Partido Social Democrático), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, registra sua pior avaliação na pesquisa Datafolha.
Em quatro meses, caiu 8 pontos (de 37% para 29%) o total daqueles que avaliam o governo de Kassab como ótimo ou bom.
Os que julgam a administração regular passaram de 30% para 27%, e os que a consideram ruim ou péssima, de 31% para 43% dos entrevistados -a maior taxa de reprovação desde que assumiu o cargo, em 2006.
O Datafolha fez o levantamento nos últimos dias 15 e 16. Foram realizadas 1.089 entrevistas com pessoas com 16 anos ou mais na capital. A margem de erro máxima é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
O intervalo entre as duas pesquisas do Datafolha coincidiu com a intensificação da movimentação partidária de Kassab. Nesse período, ele negociou o ingresso no PMDB, mas decidiu fundar uma nova legenda.
Também manteve negociações com o governador Eduardo Campos (PE) para uma coligação entre o novo partido e o PSB em 2012, com o intuito de promover a fusão das legendas mais adiante.
Na administração, o maior foco de desgaste foi o reajuste de R$ 2,70 para R$ 3 na tarifa de ônibus municipais anunciada nos últimos dias de 2010 e implementada em janeiro. O aumento foi de 11%, enquanto a inflação medida na cidade no ano foi e 5,83%, segundo a Fipe.

ENCHENTES
Nos quatro meses que separam as duas avaliações também coincidiu com o das sucessivas enchentes que assolaram a capital no final de 2010 e o início do ano.
Mas as cheias parecem ter contribuído menos para o desgaste do prefeito.
O Datafolha perguntou quem é o principal responsável pelas enchentes, e 10% apontaram a prefeitura.
A nota média atribuída a Kassab foi 4,6, ante 5,4 que ele recebeu em novembro.
A nota de agora é a menor do atual mandato, para o qual o prefeito foi reeleito em 2008, depois de substituir o tucano José Serra no posto.
Ele registrou queda de popularidade em todos os segmentos de renda e escolaridade e entre eleitores de ambos os sexos e de todas as faixas de idade.
Kassab obtém os piores índices entre os homens (47% de ruim e péssimo, contra 40% entre as mulheres), junto aos mais jovens (48% dos que têm de 16 a 24 anos o reprovam) e aos eleitores com nível superior escolar.
Foi nesse segmento, aliás, que sua aprovação teve a queda mais acentuada: 19 pontos, de 44% para 25%.
Desde que o reajuste da tarifa de ônibus foi anunciado, estudantes, militantes do PT e de outros partidos organizaram vários protestos contra o prefeito na cidade.

Enviado por Suzana Mesquita

segunda-feira, 21 de março de 2011

Tucanos impedem criação da CPI dos pedágios



Petista fica 12 horas em pé e não consegue protocolar CPI dos pedágio em São Paulopor Redação da Rede Brasil Atual 
São Paulo – No primeiro embate entre PT e PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), petistas esperaram 12 horas e foram impedidos de protocolar pedido de investigação dos pedágios em São Paulo. PT acusa partidários do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de descumprirem regimento da Alesp para evitar investigações do governo estadual. 
Segundo regimento, apenas cinco Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) podem ocorrer na Casa Legislativa. A ordem de apresentação do pedido, com pelo menos 32 assinaturas, garante a abertura da comissão ou não. 
A norma levou o PT a se posicionar às 7 horas da manhã em frente ao relógio de ponto de protocolo, com o intuito de apresentar um pedido de fiscalização dos contratos entre o governo e as empresas concessionárias das rodovias estaduais. O relógio fica dentro do plenário, onde o assessor da bancada petista, Salvador Khuriyeh, passou 12 horas desta quarta-feira (16) em pé aguardando o protocolo do documento.  
Petistas esperavam protocolar o documento pela manhã, mas foram surpreendidos pela informação de que não poderiam fazer o protocolo. A bancada do PT passou o dia aguardando uma justificativa do presidente da Alesp, eleito na terça-feira (15), Barros Munhoz (PSDB). 
A surpresa maior foi descobrir que parlamentares da base de Alckmin teriam apresentado diversos pedidos de CPI. O protocolo dos documentos teria ocorrido fora do plenário, quando “algum assessor do partido teria garantido lugar na fila, na noite anterior”, dispara a bancada do PT. 
Para o líder da bancada do PT, deputado Enio Tatto, o protocolo de um requerimento de CPI “é tão importante que houve disputa para ver quem chegava à frente no relógio”. “Desde que estou na Assembleia, sei que quem chega primeiro ao relógio de ponto protocola o pedido de CPI e quem chegou primeiro foi o assessor da Bancada do PT”, defendeu Tatto. 
Pelo menos 11 solicitações de CPI, protocoladas pelo PSDB, impediram a criação da CPI dos pedágios pelo PT. 
Tatto já vislumbra na atual legislatura, repetição da estratégia de obstrução do trabalho legislativo com “pedidos de CPI que não investiguem diretamente o governo estadual”. 
“De forma sorrateira, o governo elaborou uma série de requerimentos para impedir um único pedido de CPI da oposição, com o objetivo de investigar um fato notório, que é o excesso de praças de pedágios instaladas nas rodovias e o valor extorsivo das tarifas”, criticou o deputado Antonio Mentor (PT). 
Mentor questiona a importância dos deputados pedirem uma CPI do Sebo, por exemplo. “Os governistas apresentaram até pedido de CPI do Sebo, o que é uma vergonha para a Assembleia”, indignou-se o deputado, durante a sessão legislativa.

Enviado por Adolfo Fernandez

quarta-feira, 16 de março de 2011

Todos odeiam Kassab


De repente, a mídia começou a fazer reportagens bem ruins para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Cracolândia, enchentes, congestionamentos e, acima de tudo, claro oportunismo kassabiano no âmbito do partido que está criando, o PDB, que deverá sugar as últimas gotinhas de sangue do exangue DEM.
Sempre é bom lembrar que o partido do qual Kassab pula fora tem um DNA – ou ADN, para ser politicamente correto – tenebroso. Ex-UDN, ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, agora o Democratas  corre o risco de terminar 2011 com menos de 1/6 da bancada de deputados federais que tinha há uma década.
Os ataques demolidores que Folha, Veja, Estadão, Globo e penduricalhos já ensaiam contra Kassab só não aumentaram porque ele ainda está titubeando em sair do DEM, por mais que a situação pareça estar se configurando irreversível. Mas, como em política o que dizem tem a consistência de uma bolha de sabão, não me espantaria se o prefeito paulistano desistisse de desistir do que sobrou da direita após o tsunami eleitoral de 2010, que lhe varreu mais um belo naco do território político no Brasil.
Reportagens têm sido feitas, aliás, sobre a desidratação destra em curso neste país. No último domingo, a Folha de São Paulo publicou matérias com postulados bem significativos:
Direita ideológica some do quadro partidário brasileiro
Em crise no país, legendas liberais trocam de nome para tentar sobreviver
Militantes dizem faltar espaço para ideias de direita; especialista vê consenso social-democrata no Brasil
Além disso, um dos três grandes jornais que fazem a cabeça da direita brasileira trata com desdém e até pilhéria iniciativas para “resgatar a imagem da direita”, de novo com aquela história de que os demos e tucanos seriam, isso sim, de “esquerda”, assim como os generais que implantaram uma ditadura que cassou e detonou “comunistas” durante 20 anos:
Jovens de SP fundam grupo para ‘endireitar’ o país
Está difícil de endireitar o país quando os políticos de direita fogem do rótulo como o diabo da cruz. Isso porque a centro-direita tucana e a direita mais assumida demista foram arrasadas no pleito de 2010. E a sua máquina midiática de propaganda está sofrendo um ataque surdo que pode engolfá-la se prosseguir com seus antigos métodos.
Não é por outra razão que já faz quase três meses que Folha, Veja, Estadão ou Globo não inventam nenhum escândalo ou picuinha de monta contra o governo federal. Não consigo me lembrar de quando isso ocorreu em relação a um governo do PT.
Kassab, portanto, é o símbolo dos novos tempos na política brasileira, da coexistência pacífica da mídia com o novo governo do país. Ao mesmo tempo em que sua fuga do DEM revela o estado de destruição em que se encontra a direita, significa o golpe de misericórdia nas pretensões de José Serra de se manter politicamente vivo e influente.
A situação de Serra é tão difícil que até Fernando Henrique Cardoso baixou o tom, refugiando-se no antilulismo pré-diluviano, no mesmo barco que Eliane Cantanhêde, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Augusto Nunes e algumas outras figuraças da moribunda direita brasileira.
Logo, logo, porém, terão que deixar o antilulismo de lado e falar do presente. O silêncio de Lula lhes tira o fôlego.
A mídia, portanto, fica em um dilema. Apesar de estarem coexistindo pacificamente com o governo Dilma, até porque este já sinalizou que não quer brigar ou lhes fazer desfeitas, os Marinho, Civita, Frias, Mesquita e companhia limitada são de direita. Direitona mesmo. Não querem ficar sem partidos que os representem, como são PSDB e DEM.
Todavia, como atacar Kassab com força sem atingir José Serra, seu ex-padrinho político,  sem a própria mídia se desmoralizar? Só débeis mentais não perceberiam que as críticas surgiriam de chofre, o que levantaria questionamentos sobre por que só estariam surgindo agora, no penúltimo ano do governo de seis anos do prefeito paulistano.
Por outro lado, se valer mesmo a lenda de que Kassab fundará o Partido Democrático Brasileiro (PDB), sigla meio megalômana que deixa entender que os outros partidos não são democráticos, e que depois o fundirá com o PSB, tempos difíceis se avizinham para o prefeito.
Luiza Erundina já deixou claro que, se Kassab entrar em seu partido, ela sai. Na esquerda, no PT, no PC do B, entre os movimentos sociais, entre os sindicatos, não consigo imaginar alguém passando a tratá-lo como “companheiro”. Aliás, muito menos na blogosfera progressista…
Não é rancor. É consciência de que se trata de um oportunista que esfaqueou seus companheiros, aqueles que o levaram onde está, na primeira oportunidade. Ou seja, vale o aviso espanhol: “Cria cuervos para que te coman los ojos”. Ninguém criará o corvo Kassab, pois.
Traidor da direita, inaceitável para a esquerda, Kassab já ensaia os primeiros movimentos de seu descenso previsível. Sem mídia, com o tamanho diminuto de sua gestão em São Paulo sendo progressivamente revelado, pode-se dizer que está se tornando odiado por gregos e troianos. Um picareta a menos na política, pelo menos.
Texto originalmente publicado no Site : Blog da Cidadania de Eduardo Guimarães
Enviado por Adolfo Fernandez

terça-feira, 15 de março de 2011

Reforma Política para ampliar a Democracia

Paulo Teixeira é deputado federal (PT-SP) e líder do PT na Câmara dos Deputados. Esse artigo foi publicado originalmente na Folha de S. Paulo do dia 13/3/2011

PauloTeixeira

A Câmara acaba de instalar uma comissão especial para tratar da reforma política. A iniciativa coincide com um momento em que cresce a consciência da necessidade de um revigoramento de nosso sistema político e eleitoral.
O Brasil tem uma democracia representativa de massas, mas o sistema pode ser aperfeiçoado, com medidas que reduzam os custos das campanhas e deem sentido programático às disputas.
A crescente preponderância do poder econômico nos processos eleitorais tem provocado profundas distorções nas instituições legislativas e executivas. Amplos setores da sociedade são alijados das disputas eleitorais, em função dos altos custos das campanhas. Tal fato é facilmente observável nas disputas por cargos executivos em todos os níveis e, principalmente, nas eleições proporcionais.
A interferência do grande capital privado nas eleições é uma das principais fontes das crises políticas que vivemos nos últimos tempos. O uso de caixa dois e favorecimentos a candidatos ligados ao capital resultam em aumento do tráfico de influência e da corrupção no âmbito da administração pública.
O financiamento público vai explicitar os custos do sistema político, não os transferindo para o Estado, via contratos. O único compromisso da pessoa eleita, seja em que esfera for, será com o eleitor. Financiamento público pode não ser perfeito, mas ajudará a limitar as fraudes e facilitará a fiscalização.
O sistema de votação atual é uninominal, em que um eleitor vota num candidato, sem ter em vista a cultura programática. Isso enfraquece os partidos. Daí a necessidade do voto partidário, que vai fortalecer os partidos e permitir mais racionalidade ao debate eleitoral.
Garante-se, assim, mais nitidez partidária e programática, tirando o caráter personalista do sistema atual, em que candidatos apresentam propostas voluntaristas, clientelistas, ilusórias.
Caberá aos partidos mudar o seu funcionamento, com garantia de democracia interna.
Precisamos rejeitar soluções mistificadoras, como as do voto distrital e do "distritão". Este quebra o pluralismo, a proporcionalidade, acentua a influência do poder econômico e exacerba o personalismo.
O voto distrital transforma o Congresso em espaço para assuntos paroquiais e permite que uma minoria social detenha a maioria parlamentar, eliminando o princípio "a cada eleitor, um voto", que preserva o caráter plural do Parlamento.
Necessitamos de estímulos à representação feminina e de negros nos três níveis de representação legislativa, além de mecanismos que aprofundem a participação da população na política, via plebiscitos e referendos, como nas democracias mais avançadas.
As mudanças que preconizamos fortalecem nossa democracia, dão mais transparência ao nosso sistema representativo e, sobretudo, asseguram mais agilidade e legitimidade nos mecanismos de expressão de toda a sociedade. Eis o desafio do Congresso Nacional.

Enviado por Adolfo Fernandez




quinta-feira, 3 de março de 2011

Presidente da CUT detona Paulinho da Força

Em entrevista ao Terra Magazine, dirigente da Central Única dos Trabalhadores lembra história do parlamentar que apoiou Collor, FHC, Alckmin e se alinhou aos empresários




Nesta quarta-feira (2), o portal Terra Magazine publicou uma entrevista em que o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, rebate as declarações feitas pelo deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT).
Durante a conversa com a jornalista Marcela Rocha, Artur ironizou o egocentrico parlamentar e questiona: "Quem é ele para falar de central independente e autônoma?".
O presidente cutista lembrou ainda que a Força Sindical foi financiada com dinheiro do empresariado paulista.
- Força foi montada com dinheiro da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os empresários construíram a Força para acabar com a CUT. Ele apoiou Collor, FHC e Alckmin. Quem é ele para falar de central independente e autônoma?
E prossegue:
- Quem mudou de lado e de postura foi o Paulinho, quando se aliou ao PSDB e ao DEM, na última votação do salário mínimo, abandonando a defesa dos R$ 580 e a aderindo aos R$ 560, do DEM. Nós mantivemos a coerência ao longo desses oito anos de governo Lula.
Para Artur Henrique, Paulo Pererira está em defesa de um projeto político pessoal, em detrimento da defesa dos interesses dos trabalhadores. O presidente da CUT aposta numa aproximação do pedetista com o PSDB e DEM, tirando como base a movimentação feita pelo deputado sindicalista durante a votação do salário mínimo nas duas últimas semanas.
Confira a entrevista:
Terra magazine - Em entrevista nesta terça-feira, Paulinho da Força criticou a CUT, insinuando falta de independência da central.
Artur Henrique -
 A história do Paulinho é bastante conhecida por todos os meios jornalísticos, que sabem os movimentos feitos por ele ao longo de sua história. Durante a década de 1990, ele foi bem favorável ao processo das privatizações levado pelo PSDB, continuou na linha de apoiar o PSDB e DEM - quando sustentou (Geraldo) Alckmin - e só depois das eleições veio, por decisão de seu partido, a juntar-se a Lula.
Sobre a independência da CUT...
A primeira coisa que eu gostaria de deixar claro é que a CUT sabe diferenciar partido de central sindical e de governo. Por exemplo, na CUT, há uma resolução proibindo membros de integrarem governo ou Congresso, sem que se afastem do cargo sindical. Por que, por vezes, tem que defender posições partidárias e não sindicais, ou vice e verso. Essa tentativa de dizer que a CUT, diferentemente das demais centrais, está com uma postura distinta, é um absurdo. Quem mudou de lado e de postura foi o Paulinho, quando se aliou ao PSDB e ao DEM, na última votação do salário mínimo, abandonando a defesa dos R$ 580 e a aderindo aos R$ 560, do DEM.
Nós mantivemos a coerência ao longo desses oito anos de governo Lula. Criticamos a política macroeconômica, a elevação da taxa de juros, tudo da mesma forma como vamos continuar fazendo em relação ao governo Dilma. Somos contra essa política macroeconômica, contra essa proposta de elevação da taxa de juros, e vamos continuar defendendo isso.
"Independentemente de serem mais ou menos próximas ao governo", disse Paulinho, para depois acrescentar que as centrais sindicais estão incomodadas com o governo Dilma. 
Nós não estamos aqui discutindo cargo no governo, que me parece ser a tentativa do Paulinho, ou porque já tomou uma decisão pessoal de ir ao PSDB, ou porque quer fazer coro com Aécio Neves, ou então porque já está pensando em se preparar para a disputa eleitoral de 2012 e 2014. E assim, ele tenta se diferenciar pessoalmente.
A CUT continua defendendo as suas posições e tem, evidentemente, divergências com a Força Sindical. Seja pela nossa história ou pela concepção e prática sindical da CUT.
Quem é o Paulinho da Força Sindical para falar da independência da CUT em relação ao governo? A Força foi montada com dinheiro da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os empresários construíram a Força para acabar com a CUT. Ele apoiou Collor, FHC e Alckmin. Quem é ele para falar de central independente e autônoma?
Existe essa insatisfação com o governo Dilma que, segundo Paulinho é "quase generalizada"? 
O que existe é uma disputa que tivemos com o governo Lula e que continuará existindo no governo Dilma. A política de juros foi criticada e vai continuar sendo.
Foi o salário mínimo que gerou toda essa insatisfação com a condução do governo sobre o processo? 
É isso que está por trás do debate. Ele diz que Dilma rompeu com o governo Lula. Mas a política é a mesma. Não há nada diferente. Quando teve aumento da taxa de juros durante o governo Lula, nós criticamos. E faremos o mesmo com Dilma. Ela está fazendo o mesmo que Lula e nós criticamos porque não concordamos com essa inflação provocada pelas commodities e especuladores, principalmente no setor de alimentos.
Agora, o salário mínimo foi um tema muito debatido porque o discurso do governo era: não dar mais aumento para não colocar mais dinheiro na mão da população por conta do controle da inflação. Somos contra essa visão. Quando Dilma faz isso, é a mesma coisa que fez Lula. Criticamos.
O senhor mencionou uma aproximação entre o PSDB e Paulo Pereira. 
Faço isso com base em atitudes e declarações dele. Para mim, é muito claro que o PDT não é o único partido que defende os interesses dos trabalhadores. Muito menos que é o verdadeiro partido em defesa dos interesses dos trabalhadores. Não me parece que Paulinho, ao adotar esse tipo de postura, fazendo críticas ao governo Dilma, esteja querendo defender os interesses dos trabalhadores. Nada disso.
Pra mim, ele está disputando cargo ou tentando retomar o papel que ele perdeu nessa última disputa (salário mínimo). Ou então, porque ele já decidiu ir para o outro lado nas disputas eleitorais que virão. Ele pode ir pro PSDB do Aécio, ou para o de Alckmin, ou até acabe entrando nessa movimentação do PSB com Kassab.
Ele está muito mais preocupado com seu futuro político do que em fazer a defesa dos interesses dos trabalhadores. Até porque ele me parece confundir o papel de presidente de central com o de deputado.